sábado, 31 de março de 2007

Pois é
Murmurou o romano
Quando lhe disseram
Ser pesada a cruz do nazareno

Pois é
Murmurou Hitler
Quando lhe disseram
Ter corpos demais e Alemanha de menos

Pois é
Disse quem queria falar
Mas não tinha o que dizer

Por isso ponham no meu túmulo
Quando eu mais nada dizer
E mais tenha a falar:
Morreu?
Pois é.

sábado, 24 de março de 2007

Ao pó

O mal no coração dos homens
É carne é sangue
Eternizados por fora
Mortos por dentro

Camisas não vestem almas
Rostos e versos no papel
Entre dentes uma língua morta
No final qual vida importa?
Qual mentira conforta?
Qual esperança liberta?
Afinal o que resta?

Resta culpa
Resta dúvida
Resta um

Eterno retorno ao pó
Eterno retorno a nós.

terça-feira, 20 de março de 2007

Versos...

Mundo de papel
Embrulhando Deuses de barro
Muro abaixo, escada acima
O que dizer quando não existe poesia?

Nos restam apenas lágrimas
Construímos apenas sonhos
Não vivemos o que somos
O que buscar quando só existe poesia?

Dançamos conforme a música
Sem saber a melodia
Sem partida ou chegada
O que viver quando somos poesia?

Amores vem e vão
A vida só se vai uma vez
Levando consigo a dor
O que fazer quando não entendemos a poesia?

quinta-feira, 15 de março de 2007

Andando

Ando pelo mundo
O mesmo mundo
Onde não vive ninguém

Olho para o céu
O mesmo céu
Que não protege ninguém

Respiro o ar
O mesmo ar
Que não sufoca ninguém

Com todos que eu falo
Com todos que eu amo
São todos ninguém

Só falo comigo
Só amo a mim
Mas será que sou alguém?

Ando pelo mundo
Acho tudo um absurdo
E todos dizem: Eu sei

Olho para o céu
O céu destruído pelo nosso orgulho
Não entendo e todos dizem: Eu sei

Respiro o ar
O ar que me infecta
Não acho a cura e todos dizem: Eu sei

Como lixo
O lixo que alimenta quem é ninguém
Choro e todos que são dizem: Eu sei

Com todos que falo
Com todos que amo
Não sinto nada e eles dizem: Eu sei

Só falo comigo
Só amo a mim
E todos dizem: Eu também

Ando pelo mundo
O mesmo mundo
Que não é de ninguém

Olho para o céu
O mesmo céu que nos esmaga
E não protege ninguém

Respiro o ar
O mesmo ar que infecta
Mas não mata ninguém
Somos doença também

Como lixo
O lixo que já foi alguém
Somos lixo também

Com todos que falo
Com todos que amo
Todos fingem tão bem

Só falo comigo
Só amo a mim
Desespero-me
Pois assim como você
Não serei nada no fim

quarta-feira, 14 de março de 2007

Precisão


É preciso mais do que nada
Para ser feliz
É preciso dar mais risada
Para entender o que ninguém diz

Mas você não precisa
Não há mais precisão
É melhor ser louco
Quando ninguém tem razão

Não é preciso procurar a saída
Quando não se tem para onde ir
Aceite agora sua vida
Não há outra opção para seguir

É preciso mais do que tudo
Para saber o que não faltava
É preciso mais de uma vida
Para aproveitar o que sobrava

Mas você ainda precisa
Queremos maior precisão
É melhor estar sozinho
Quando ninguém lhe estende a mão